CNV não é sobre uma comunicação "fofinha"

e outros mitos baseados em conhecimento raso da Comunicação não violenta

Roberta Hahn

3/5/20253 min read

woman in black long sleeve shirt holding black ceramic mug
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Você já ouviu falar que Comunicação Não Violenta (CNV) é sinônimo de ser sempre gentil, falar com voz suave e evitar conflitos? Pois é. Se você acredita nisso, alguém te vendeu um terço da ideia.

Criada por Marshall Rosenberg, a CNV surgiu como uma resposta às dinâmicas de dominação e controle presentes nas relações cotidianas, especialmente em ambientes de poder. Seu propósito é transformar a comunicação em uma ferramenta para a colaboração, não para a submissão. Em vez de focar em quem está "certo" ou "errado", ela nos convida a olhar para as necessidades por trás das palavras, criando pontes em vez de muros.

Na prática, a CNV é sobre autenticidade com responsabilidade, não sobre suavizar verdades ou engolir sapos. É mais firmeza do que fofura. E mais consciência do que técnica.

Vamos derrubar sete mitos comuns que enfraquecem a forma como líderes e equipes entendem (e aplicam) a CNV:

Mito 1: CNV é falar "com jeitinho"

Não. CNV é falar com clareza e respeito, mesmo quando a conversa é difícil. O foco não está na suavidade, mas na conexão real. Uma liderança que pratica CNV não evita desconfortos; ela os atravessa com escuta ativa e assertividade.

Falar "com jeitinho" muitas vezes é sinônimo de evitar o que precisa ser dito. Já a CNV propõe o oposto: ser direto, mas sem desrespeitar o outro ou comprometer a relação.

Mito 2: Quem pratica CNV não sente raiva

Ah, como seria bom, né? Mas não. A CNV não apaga emoções. Pelo contrário: ela ensina a nomear e direcionar essas emoções de forma construtiva.

A raiva, em especial, é um sinal de que algo importante precisa de atenção. Sentimentos são mensageiros – ignorá-los é como jogar fora a correspondência sem abrir. A CNV ensina a "ler" essa mensagem: Que necessidade minha está sendo negligenciada aqui?

Quando você entende o recado, a raiva deixa de ser uma explosão e vira uma oportunidade de comunicação honesta.

Mito 3: CNV é sempre concordar com o outro

Errado. Praticar CNV não é abrir mão do que é importante para você. Trata-se de criar um espaço para que ambas as partes sejam ouvidas. Concordar por conveniência ou medo de conflito não é CNV, é silenciamento.

Na CNV, você pode discordar – e deve, quando for autêntico – sem partir para o confronto ou desqualificar o outro.

Mito 4: CNV resolve todos os conflitos

Não é mágica. A CNV não garante acordos, mas aumenta as chances de entendimento. Em alguns casos, o resultado mais autêntico é reconhecer que um consenso não é possível – e, ainda assim, manter o respeito.

O objetivo é criar um diálogo genuíno, não "ganhar" a conversa.

Mito 5: Praticar CNV significa falar menos

Na verdade, significa falar melhor. Menos não é sinônimo de mais consciente. A CNV propõe expressão clara dos sentimentos e necessidades, sem rodeios ou excessos.

Calar-se para "evitar problema" não é CNV, é autossabotagem. Falar de forma intencional é o que transforma a conversa em um espaço de entendimento mútuo.

Mito 6: CNV é uma técnica fixa, com passos engessados

CNV não é receita de bolo. O modelo clássico – observação, sentimento, necessidade e pedido – é um caminho, não uma fórmula. A prática real exige flexibilidade, escuta ativa e adaptação ao contexto.

Pensar que a CNV se resume a quatro etapas mecânicas é como achar que dançar se resume a contar passos. O método é o ponto de partida, não o destino. O treino leva à fluidez.

Mito 7: CNV elimina desconfortos nas relações

Na verdade, ela os escancara. Mas com propósito: em vez de varrer a sujeira para debaixo do tapete, você aprende a encarar as tensões como oportunidades de crescimento.

A CNV cria pontes, sim. Mas não sem antes atravessar as águas turbulentas das vulnerabilidades e mal-entendidos.

Quer aprender a aplicar a CNV de forma prática, sem cair nesses mitos? Descubra como transformar sua comunicação no ambiente de trabalho neste workshop que eu facilito.

Se essa reflexão fez sentido para você, comenta: qual desses mitos você já acreditou (ou ainda acredita)?

Até a próxima troca!

Roberta Hahn